Concerto: Nancy Elizabeth – Um pé feito de coragem.
26 de Fevereiro – Theatro Bar, Tomar
Texto e fotos por Ana Beatriz Rodrigues
Enquanto, lá fora, o país estava a braços com uma massa de ar frio mascarada de temporal, foi um Theatro Bar caloroso que deu as boas-vindas a Nancy Elizabeth.
Num ambiente vintage, onde não faltava a mobília antiga e as velas, a menina-mulher de Manchester subiu ao palco, não sem antes fazer jus à sua timidez e aguardar no fundo da sala, nervosa e pacientemente, que o audiência tomasse o seu lugar, naquele que foi o primeiro concerto internacional do Theatro Bar.
Mal a sua voz doce e quente inundou a sala de concertos, foi o silêncio total, onde apenas a figura de Nancy imperava. A inglesa, pela segunda vez em Portugal, começou a desfilar temas do seu segundo e mais recente álbum, Wrought Iron. Porém, à terceira música, dá-se o ponto de viragem do espectáculo. Nancy salta da guitarra para o piano para interpretar Toader Line, confessando à sua audiência que a entristece não ter um piano em casa, por falta de espaço.
De uma simplicidade atroz e com ar verdadeiramente naïf, Nancy passeia pelo palco com o seu vestido azul. O contacto visual é-lhe difícil, talvez por isso, como desabafou, faz-lhe confusão que lhe tirem fotografias. Aliás, se se pudesse descrever o concerto em um vocábulo – além de maravilhoso, por isso… tinham mesmo de ser dois -, interagir era a palavra de ordem. É que Nancy Elizabeth encontrou no seu público tomarense uma recepção sedenta que, chegando mesmo a roçar o engraçado e o cómico, não subtraiu em nada a mística da actuação, pelo contrário. Entre [sor]risos, a cantora partilhou, em palco, que tinha gostado do bacalhau português (que provou, mesmo sendo vegetariana) e exclamou, passavam poucos minutos da uma da madrugada, “It’s so late!”. Não que Nancy estivesse a despachar o seu público, mas, como explicou, “em Inglaterra, os concertos começam muito cedo e a esta hora eu já costumo estar na cama”.
Musicalmente, Nancy é rica. E tem uma qualidade que, hoje em dia, rareia por aí: a capacidade de sentir a música e o que diz. Off with your axe é um exemplo disso, pois relata as estórias que muitos passaram nas minas de carvão em Manchester, a cidade-natal da cantora.
Além do poder vocal, a inglesa é uma artista multifacetada, que, ora nos prende com os dedilhados melódicos à guitarra, como em Lay Low; ora nos arrebata de tristeza ao piano, como o fez em Ruins. Apesar de não ter trazido consigo a harpa e a caixa de ritmos, Nancy também teve o poder de surpreender, naquele que foi, talvez, o momento alto da noite.
De repente, a singer-songwriter arrasta uma cadeira para junto de si e, com o auxílio de uma baqueta e do seu pé direito a fazerem de percussão, canta Feet of Courage.
Para o encore, ficou guardado Battle and Victory, que Nancy confessou a medo, já não se recordar. O que, obviamente, não aconteceu.
Já que se fala em recordar, este foi, sem dúvida, um daqueles concertos que vai ficar na memória da cidade de Tomar e de todos aqueles que, numa sexta-feira chuvosa, se dirigiram ao Theatro Bar.
“Gostei tanto daquele vestido, mas não tenho como comprá-lo”
No final do concerto, o Ponto Alternativo falou com Nancy Elizabeth. A cantora explicou-nos que se sente muito confortável em Portugal, mas que, se tivesse de escolher uma cidade de eleição no nosso país, esta seria Aveiro. “Talvez por ter sido o primeiro sítio[Mercado Negro] onde actuei cá”.
A meio do concerto, Nancy confidenciou à sua audiência que, ao passear por Tomar naquela tarde, se tinha apaixonado por um vestido, bastante caro, por sinal, e que, por isso, não o poderia comprar. Ao PA, a cantora admite que, actualmente, é muito difícil viver da música, mas que o faz por “paixão” e porque, desta forma, tem a hipótese de “viajar um pouco por toda a Europa”.
Em jeito de remate, a inglesa elogia o nosso país e o nosso público caloroso, prometendo regressar em breve. “Sinto-me respeitada aqui. Por vezes, no Reino Unido, as pessoas fazem barulho durante os meus concertos, o que perturba a minha actuação”.
Cá não fazemos isso, Nancy. Cá te esperamos para a próxima.
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Tags: concerto, Nancy Elizabeth, Theatro Bar, Tomar
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Excelente texto. Foi muito assim em COimbra também.
Bj
RM