Concerto: Monotonix + Cangarra @ Galeria Zé dos Bois

28Feb11

27 de Fevereiro, Galeria Zé dos Bois, Lisboa
Texto por Emanuel Pereira


Apercebemo-nos de que estamos num concerto de Monotonix quando nos encontramos em cima do próprio palco da ZDB, a olhar para um membro do público que decidiu, já depois de a festa terminar, tocar aleatoriamente naquilo que restava da estilhaçada bateria dos israelitas.
Monotonix transforma qualquer espaço numa twilight zone; e quem pensou que no Bairro Alto seria diferente… Enganou-se. Nem o pátio da Zé dos Bois escapou à convulsa romaria provocada pelo trio. Eles tinham-nos dito que “selvagem” é um adjectivo recorrente nos seus concertos e, ontem, voltaram a confirmá-lo.

Ami Shalev, o vocalista, deambulou pelo palco uns quinze/vinte minutos antes de tudo começar. Enquanto sorria e lançava umas palavras em hebraico para os presentes, desenrolava e ligava cabos, como se estivesse na sua sala de ensaio privada. O mesmo fizeram os outros dois membros, Yonatan e Haggai, colocando bateria e guitarra plateia adentro.
E, quando já tudo estava pronto, o build-up inicial foi quebrado por alguém da plateia que caiu perto da bateria, desamparado. A música parou e Ami foi até lá confirmar se estava tudo bem, enquanto a pessoa era encaminhada para fora da sala. Uma situação que se ao início parecia preocupante, logo se transformou em piada, com o vocalista a indagar se seria ele faria isto em todos os concertos a que ia e que tal situação nunca tinha acontecido num gig de Monotonix, muito menos antes de o show se iniciar.

“Nós não costumamos começar o concerto assim. Mas, pronto: benfiquistas e sportinguistas, unam-se por uma noite e imaginem que nós somos do Porto. Vamos ver quem vence!” e Flesh and Blood explodiu nos speakers, enquanto Ami lançava garrafas de água abertas em todas as direcções. Ficou a tenda armada, com direito a headbang generalizado e a frenéticos movimentos corporais de quem se agrupava em redor da banda.

O restante concerto não foi diferente, apenas a localização da balbúrdia foi mudando: se no início a desordem começou perto do palco, pouco depois ela já se encontrava no fundo da sala, com Ami a vociferar em cima da mesa de som. Bancos de bateria, baquetas e restante arsenal, tudo foi utilizado como arma para despoletar uma amigável confusão, cuja única pausa serviu para que Ami discursasse, já perto da porta de acesso ao pátio: “É só para vos informar que esta é a nossa última tour. Estamos velhos e, se vocês querem que os vossos filhos cresçam de forma minimamente saudável, não se esqueçam de que eles precisam de duas figuras parentais e não de uma mãe aplicada e de um pai que anda por aí a vadiar”. E quando questionado sobre a sua idade, o israelita respondeu “quarenta e seis, mas tenho uns abdominais como o Cristiano Ronaldo”.

Depois de Body Language e de um sufrágio a “olhómetro” para ver quem concordava e discordava com a ida ao pátio, os Monotonix levaram mesmo a sua procissão para céu aberto, junto às casas-de-banho da galeria. Por esta altura, a música já era secundária e apenas se escutava uma guitarra em constante feedback, algo que praticamente se manteve até ao término do gig. De regresso à sala, houve apenas ocasião para Ami pegar num timbalão e atirá-lo contra a bateria, colocando o ponto final num concerto extenuante e festivo, mas que, musicalmente falando, poderia ter sido melhor.

Os Cangarra abriram a noite, pouco depois das dez. Bem mais ortodoxo do que os israelitas, o duo actuou em palco, fazendo uso de uma guitarra (conectada a uma fileira de pedais) e de uma bateria. Cláudio Fernandes e Ricardo Martins dedicaram-se a meia hora de um free jam contínuo, com momentos próximos a uns Wooden Shjips, por exemplo. Baquetas partidas e cordas mutiladas foram o resultado de um intenso improviso psicadélico, que quase incorreu no risco de esgotar em si mesmo, apesar de ter proporcionado bons momentos aos presentes.



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